Apesar da necessidade da manutenção de R$ 600 para pagamento do Auxílio Brasil ou Bolsa Família, a PEC da Transição, proposta pela equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ameaça as contas públicas. O economista-chefe da Austin Rating Alex Agostini afirma que o futuro governo deveria planejar um corte de despesas. “Isso não pode se tornar uma justificativa para o governo gastar de forma indeterminada. Porque quando isso acontece, o governo vai fazer como a família, vai entrar no cheque especial, vai aumentar o endividamento do país e vai perdendo a eficiência de crescimento. Isso significa que o país vai manter essa situação de desigualdade social por mais tempo, porque não vai haver investimentos. Além disso, tem efeitos também diretos como perspectiva de inflação mais alta, porque a percepção de risco do investidor vai piorando. Quem vai querer investir em um país que tem um descontrole fiscal, um descontrole financeiro? É preciso que haja um programa de distribuição de renda, mas o governo poderia apresentar, por outro lado, quais serão as medidas de redução de despesas”, diz.
Agostini também defende que a reforma tributária precisa sair do papel neste novo governo. Para o economista, o Brasil precisa de um novo pacto federativo. “Já que a equipe de transição de governo está negociando com o Congresso Nacional, ele poderia, por exemplo, apresentar uma outra proposta para melhorar, descentralizar o orçamento federal. E apresentar uma proposta de um novo pacto federativo, que, aliás, Paulo Guedes deu desde a campanha eleitoral de 2018: menos Brasília e mais Brasil, ou seja, descentralizar a receita e, naturalmente, ter uma receita mais aberta. A equipe de transição não está olhando por essas alternativas porque sabe que o empenho é muito maior”, diz. O economista considera um erro a ideia de arrecadar mais para gastar mais. Na visão dele, a proposta de um reforma administrativa seria um bom começo em um novo governo.